Por Rita Trevisan
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Muitas meninas ficam indignadas só de ouvir falar em agressão física, moral ou sexual por parte do namorado. Pode parecer algo bem distante, tipo de coisa que só acontece na casa da vizinha ou de uma colega da escola. Porém, é bem possível que boa parte destas garotas tenha na memória a lembrança de uma discussão acalorada com um ex ou até mesmo com o namorado atual, de um xingamento que magoou, de um empurrão, um beliscão, um tapinha "de leve" que receberam. Outras meninas, ao consultar a memória, poderão recuperar a imagem de um dia em que, mesmo não estando 100% convencidas de que queriam transar, acabaram cedendo aos apelos do garoto, por medo de perdê-lo. Pois essas e tantas outras mulheres foram vítimas, sim, da violência. O grande problema é que acabaram identificando o comportamento como "normal" e deixaram passar.
Sem saber, agindo dessa maneira, elas abriram precedente para que o garoto repetisse a dose, pegando mais pesado na próxima vez. É claro que nem toda briga feia vai desencadear violência. Mas é importante ficar atenta: se as discussões começam a se tornar cada vez mais ofensivas, e se algum tipo de agressão física acontece, esse é um motivo e tanto para repensar o namoro.
"Numa relação afetiva não deve haver lugar para nenhum tipo de agressão, muito menos a física. É preciso que a garota tenha uma postura firme, deixando bem claro, desde a primeira discussão, que ela não vai aceitar determinados comportamentos", diz a socióloga Wânia Pasinato, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo e do Núcleo de Estudos de Gênero da Universidade Estadual de Campinas. A leitora Caroline Dias Paes*, de 17 anos, namora há um ano e oito meses e está acostumada com as crises de ciúme do namorado, que motivam 100% das brigas entre os dois. "Tudo serve de desculpa para ele me xingar. Ele não pode me ver com um amigo, não pode pegar um recado de menino no meu celular que sempre arma a maior briga. Ele diz que eu não presto, que tem nojo de mim, grita comigo, me empurra, me aperta. Eu choro e peço desculpas, sempre", conta. Nas brigas, Caroline tem a reação que muitas mulheres vítimas de agressão costumam manifestar. Ela se entristece e tenta, de todo o modo, salvar a relação.
Mas, com isso, apenas alimenta o desequilíbrio de seu agressor, que percebe estar conseguindo o que de fato mais deseja: controlar a vida da namorada. Por trás desse comportamento passivo, no entanto, pode estar uma boa dose de sentimento de culpa."Muitas garotas acabam sendo convencidas pelos argumentos do namorado, acham que deram motivo para a agressão. Mas isso não existe. A violência física e moral, em qualquer situação, é injustificável", alerta a especialista. Outro equívoco que costuma alimentar o imaginário das mulheres agredidas - fazendo com que aceitem as situações humilhantes a que os namorados as submetem - é o de que estão sendo, enfim, amadas de verdade pelo outro. "Sem perceber, elas veem nessas experiências dramáticas com o namorado, ocasionadas normalmente por crises de ciúme, uma manifestação de afeto e atenção.
Por conta de uma fragilidade interior, em vez de identificarem a agressão, se sentem mais valorizadas pelo outro", analisa Wânia. Mas, em verdade, o que pode parecer amor e afeto não é outra coisa senão um comportamento doentio do garoto, e ele provavelmente precisará de tratamento especializado para sair dessa. A namorada, ainda que queira ajudá-lo, só tem uma coisa a fazer: dar um tempo na relação, permitindo que ele reflita sobre suas atitudes e, quem sabe, se modifique.
Na hora da briga No momento da discussão brava, além de não ceder aos argumentos dele - se lamentando e pedindo perdão até pelo que não fez -, a garota também não deve botar mais lenha na fogueira. A melhor atitude nessa hora, segundo os especialistas, é se afastar imediatamente. O ideal é que a namorada explique que prefere conversar num outro momento, em que os dois estejam mais calmos. E, por mais que ele tente provocar respostas e comentários, a decisão de não participar da briga deve ser mantida A HORA DE DENUNCIAR Os especialistas são unânimes em afirmar: uma única experiência de agressão física já deve ser o suficiente para motivar a denúncia. A vítima deve ir acompanhada dos pais à delegacia mais próxima - de preferência, a uma que se dedique especialmente ao atendimento de mulheres. Elas existem em quase todos os municípios brasileiros, e ali haverá profissionais treinados para lidar com os mais diversos casos de violência. |
Um tapinha não dói? Muitas meninas, embora nunca tenham sofrido nenhum tipo de violência, fazem parte do "grupo de risco". E isso por conta de um comportamento característico delas, e não do menino. Estamos falando das garotas que adoram armar um barraco e que têm a péssima mania de distribuir tapinhas "inofensivos", beliscões e outros gestos nada carinhosos. Sem perceber, elas também criam oportunidades para que, mais dia, menos dia, o namorado revide. Por isso, a dica é evitar brincadeirinhas que envolvam qualquer tipo de agressão, assim como xingamentos e discussões acaloradas por qualquer besteira. Além de desgastar a relação, essas pequenas demonstrações de falta de respeito podem ir tomando, com o tempo, proporções que a garota nem imaginaria. Melhor é encher o namorado de beijinhos e, nos momentos de raiva, respirar fundo e esperar passar, antes de chamar o garoto para uma conversa. Depois, com calma, colocar os argumentos, explicando o que incomodou. Esse é o jeito mais fácil de construir um relacionamento maduro, estável e prazeroso. Faça a sua parte! |
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